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O Bosque do Trabalhador e a história do trabalho em Curitiba

Situado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) - o maior e mais populoso bairro de Curitiba -, o Bosque Municipal do Trabalhador é uma homenagem à classe trabalhadora de Curitiba e principalmente aos trabalhadores que, desde a década de 1960, contribuem com sua força de trabalho para o desenvolvimento daquela região e da cidade de Curitiba. 


Popularmente chamado de Parque do Trabalhador, o local tem quase 200 mil m² de área verde, e conta com 2 bosques preservados de mata de araucária, um portal de entrada, canchas de vôlei e de futebol, e trilhas para prática de exercícios aeróbicos. Inaugurado em 1996, foi a maior área verde criada pela prefeitura na CIC, bairro que necessitava (e ainda necessita) de espaços de lazer em contato com a natureza.


Origem da CIC


A Cidade Industrial de Curitiba foi inaugurada em 1973, para substituir o bairro Rebouças como o Distrito Industrial da cidade. Até os anos de 1960, no Rebouças se situavam a maioria das fábricas de Curitiba. Entretanto, com o crescimento da urbano e populacional da capital, tornou-se inviável manter o complexo fabril na parte central da cidade.


Por isso, após a aprovação do Plano Diretor, em 1966 — que redefiniu o uso do solo, a organização dos bairros em setores, o transporte coletivo e a circulação de pessoas na cidade —, ficou definido que o Distrito Industrial do Rebouças seria desativado para a implantação de outro, na periferia de Curitiba, para desafogar e despoluir o centro. 


A escolha da região oeste de Curitiba para a implantação da Cidade Industrial de Curitiba foi bastante discutida. Na época, tratava-se do local menos povoado da cidade, embora fosse plano e relativamente próximo aos bairros centrais, e também aquele que ficava a favor do vento — com isso, a poluição seria deslocada para fora de Curitiba.


Então, por meio da atuação da Urbanização de Curitiba S/A (URBS), a área recebeu saneamento, energia elétrica, estrutura viária, tudo bancado pela prefeitura, e depois foi loteada para grandes empresas, incluindo multinacionais, que se estabeleceram ali. Junto às empresas, vieram os trabalhadores, tanto de Curitiba como de outras cidades do país, que, empregados na CIC, passaram a morar no bairro ou em seus arredores.



Vila Nossa Senhora da Luz


Ainda na década de 1960, antes mesmo da criação da CIC, já começavam a aparecer iniciativas com o fim de preparar a região para a chegada das indústrias. Uma delas foi a criação da Vila Nossa Senhora da Luz - na região que viria a ser a CIC.


Inaugurada em novembro de 1966, foi o primeiro conjunto habitacional de Curitiba e um dos primeiros do Brasil. Pretendia realocar moradores das cerca de 25 ocupações irregulares da capital, além de povoar uma região onde em seguida se instalariam diversas indústrias - de modo que os habitantes da vila fossem mão de obra em potencial.


Inicialmente foram construídas 2150 casas, de dois modelos: um com 22m² e outro com 50m². Além das casas, a vila contava com uma estrutura para atender sua população: centros de atendimento social e de saúde, escolas de ensino e profissionalizante, mercado e igrejas. Ao longo dos anos, as famílias foram remodelando as casas e também a paisagem da Vila, que hoje é muito maior do que em seus anos iniciais.



Com a chegada de novas indústrias e trabalhadores ao longo do tempo, a CIC cresceu vertiginosamente. Segundo dados do Ippuc, de 2016, vivem na Cidade Industrial 186.083 moradores, números que a tornam mais populosa do que as cidades de Guarapuava, Paranaguá e Araucária. Se fosse uma cidade autônoma, a CIC seria a 9ª mais populosa do Paraná.


Por ser o bairro mais populoso e o que concentra o maior número de trabalhadores, a CIC também é reconhecida por ser um local de greves: desde a década de 80 e até hoje, recorrentemente os sindicatos fazem paralisações e passeatas perto das indústrias, com destaque para o Sindicato do Metalúrgicos da Grande Curitiba. 


Situação precária


Esse histórico da CIC, intimamente ligado com os trabalhadores de Curitiba, foi o principal argumento para a inauguração do Bosque do Trabalhador, ao lado da Vila Nossa Senhora da Luz. 


Entretanto, nem tudo que reluz é ouro. Atualmente, o Bosque do Trabalhador não está bem conservado: faltam lixeiras, bancos e espaços de lazer, ciclovias, placas informativas sobre o local, iluminação, segurança e, sobretudo, espaços de memória. Apesar do nome fazer referência aos trabalhadores, não há um só monumento que valorize a memória da classe trabalhadora de Curitiba — e, ironicamente, a rua que passa em frente ao Bosque não homenageia um líder grevista, mas um integrante de uma poderosa família política do Paraná.


Embora o bosque lembre os trabalhadores em seu nome, a não existência de outras referências aos trabalhadores e a suas lutas - através de estátuas, monumentos, exposições - contribui para o esvaziamento de seu significado enquanto homenagem à classe trabalhadora.


Para uma cidade que preza pela valorização dos parques e áreas verdes da região central e arredores, como é Curitiba, é contraditório que o Bosque do Trabalhador se encontre nesse estado. O interesse da prefeitura não pode ser somente pelas regiões consideradas turísticas, mas também deve ser pelas periferias, que tanto necessitam de áreas de lazer e de preservação histórica. 



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