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O Teatro Guaíra e a história do teatro curitibano

Símbolo da cultura curitibana - e, por que não, brasileira? - o Teatro Guaíra é o maior teatro do Estado do Paraná, contando com capacidade para 2.757 pessoas, em um espaço de vários auditórios, totalizando 16.900 metros quadrados. 


O Guaíra é o maior e mais conhecido entre os diversos teatros curitibanos que existem hoje. O teatro existe onde está hoje desde a década de 1950, mas a tradição do teatro em Curitiba - da qual o Guaíra é herdeiro - existe há mais de 160 anos.


Primeiro Theatro de Curitiba


Os primeiros espetáculos de teatro de Curitiba eram peças encenadas pela companhia de teatro de Domingos Martins de Souza em um edifício localizado na Rua Direita, nº 32 (hoje Rua Treze de Maio).


A edição de 26 de dezembro de 1855 do jornal Dezenove de Dezembro assim noticiava:


“Para quem tão enfadonha vida vae passando atravesse sem entretimentos as noites, a noticia que damos, deve ser de bom grado acolhida. A companhia dramatica que com immensos aplausos tem representado nos theatros de Paranaguá, Morretes e Antonina, acaba de chegar a esta cidade com o fim de dar algumas noites de divertimento aos habitantes desta capital, para o que já está apromptando um theatro na rua Direita em uma casa particular para servir provisoriamente”. (Dezenove de Dezembro, 26 de dez. de 1855, p. 3)

Já nessa época, o anúncio do jornal - provavelmente escrito pelo dono da companhia de teatro - demonstrava que existia uma preocupação acerca da construção de um teatro definitivo na capital.

Essa preocupação também apareceu em relatórios dos Presidentes das Províncias na década de 1860, mas a iniciativa veio a se concretizar cerca de duas décadas depois, com a construção do Theatro São Theodoro. 


A construção se arrastou por anos, mas o assentamento da pedra fundamental para sua construção se deu em 25 de março de 1874, pela Sociedade Literária União Curitiba, em terreno doado pelo governo na Rua Muricy, onde hoje é a Biblioteca Pública do Estado do Paraná. Algumas fontes afirmam que o nome do teatro é em homenagem ao “fundador” da cidade de Curitiba, Eleodoro Ébano Pereira (cujo nome era Eleodoro e não Theodoro); outras, como a historiadora Cassiana Lacerda, afirmam que o nome seria em alusão a São Teodoro, patrono dos soldados, dos matadores de dragões, cuidadores de crianças e mulheres. 


 A construção do teatro se iniciou através de iniciativas particulares, mas em 1880 foi cedido à Província do Paraná. Com o Estado assumindo a obra, os encarregados foram o engenheiro André Braz Chalreo Júnior e o arquiteto José Moreira de Freitas, com a decoração sendo feita pelo pintor
Antonio Mariano de Lima O teatro foi inaugurado mais de dez anos depois da colocação da pedra fundamental, em 28 de setembro de 1884.

O teatro, no entanto, não funcionou apenas como teatro. Em seus primeiros dez anos sim, mas em 1894, por conta da Revolução Federalista, ele foi usado como prisão e, após a Revolução, ficou fechado. Anos depois, em 1900, foi reformado e reaberto agora com o nome de Theatro Guayra.


O teatro durou até a década de 1930, quando foi demolido pelo mau estado de conservação do edifício. Algumas fontes dão conta que o teatro foi demolido em 1935, outras em 1937, outras em 1939. O que podemos afirmar é que a demolição foi gradual, uma vez que no jornal Correio do Paraná, em edição de 29 de abril de 1941, se afirma que o teatro está parcialmente demolido.

Logo após a desativação do teatro, já se iniciou a campanha pela construção de um novo Teatro Guaíra, liderada pela Academia Paranaense de Letras. O projeto para a construção do teatro é escolhido no final da década de 1940 e a construção iniciada em 1952. O responsável pelo projeto é Rubens Meister, que também é autor de outras obras importantes na história do Paraná, entre elas: o Panteão dos Heróis da Lapa (1943), o Auditório da Reitoria da UFPR (1956), o Centro Politécnico (1956), a Prefeitura Municipal de Curitiba (1969) e a Estação Rodoferroviária de Curitiba (1976).


O novo Teatro Guaíra


A construção do teatro fazia parte das “Obras do Centenário” - alusivas ao centenário da Emancipação Política do Estado do Paraná, comemorado em 1953. Essa iniciativa foi levada a cabo pelo então Governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha. Nesse mesmo período e nesse mesmo contexto, Curitiba passou por diversas transformações que buscavam modernizar a cidade. Isso se deu principalmente através de grandes obras, como a construção do Centro Cívico, de Praças, e do Teatro Guaíra, entre outras obras. O terreno escolhido foi um terreno em frente à Praça Santos Andrade, no centro da cidade.


O primeiro auditório a ser inaugurado foi o auditório Salvador de Ferrante - o Guairinha. Já no nome o novo Teatro Guaíra faz alusões ao primeiro e à história do Teatro em Curitiba. Salvador de Ferrante foi um ator, diretor, e talvez o principal nome do teatro amador da primeira metade do século XX em Curitiba. Foi fundador da Sociedade Teatral Renascença e da Escola Teatral Paraná, entre outras iniciativas que teve em prol do teatro paranaense. O palco de tudo isso o antigo Teatro Guayra. Salvador faleceu em 1935 - época que coincide com a demolição do teatro.


O auditório cujo nome homenageia Salvador foi inaugurado oficialmente em 1954 e, dada sua importância não apenas regional como nacional, contou com a presença do Presidente da República à época - Café Filho.

Vinte anos depois, foi inaugurado o maior e mais conhecido entre os auditórios do complexo - o Guairão. Do mesmo modo que acontecera vinte anos antes, a autoridade máxima do país - Ernesto Geisel, um dos presidentes da ditadura militar - esteve presente à inauguração.


Também esteve presente o governador do Paraná à época, Emílio Gomes, que proferiu as seguintes palavras: 


“Este é, sem dúvida, um monumento de arquitetura e de técnica erguido à cultura em geral, e à arte cênica, em particular, destinado a abrigar e difundir manifestações do espírito criador, sob as mais variadas formas de espetáculos, para a educação e recreação do povo” (Diário da Tarde, 13 de dez. de 1974, p. 3)


O auditório levou o nome do ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto, que foi o iniciador da obra, ainda na década de 1950. Quando inaugurado, o teatro figurava entre os 10 maiores do mundo.


Em agosto de 1975, foi inaugurado o último auditório, Glauco Flores de Sá Brito, o Miniauditório, deixando completo o projeto do complexo cultural, que passava a se chamar Fundação Teatro Guaíra. Glauco Flores de Sá Brito foi um jornalista, crítico de teatro, poeta, dramaturgo, profissional de televisão, encenador e agitador cultural, nascido no Rio Grande do Sul, tendo residido em Curitiba pela maior parte da sua vida. 


Assim finalmente estava finalizado e inaugurado o Complexo do Teatro Guaíra, que desde então ano após ano abrilhanta a cena cultural curitibana. Diversos nomes nacionais e internacionais já passaram pelo teatro, entre eles Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Hermeto Pascoal, Mercedes Sosa, B.B. King, Robert Plant, Julio Iglesias.


O Guaíra está também no circuito do Festival de Teatro de Curitiba, que existe desde 1992 e tem como palco de diversas de suas atrações o Teatro Guaíra.


Além de toda a história do teatro por si só, há outros elementos que lha dão ainda mais valor, como os nomes que os auditórios homenageiam, e um painel de um dos maiores artistas paranaenses em sua fachada: Poty Lazzarotto. Luiz Renato Roble, no grupo memorialístico Antigamente em Curitiba, explica os detalhes do painel: 


O belo painel, conhecido como O Teatro no Mundo, apresenta o surgimento das artes cênicas, com elementos que remetem à arte, desde a tragédia grega até o teatro moderno.

William Shakespeare, Bertolt Brecht, commedia dell’arte, autos de natal, saltimbancos, acrobatas, teatro de variedades e ópera, são alguns dos temas utilizados por Poty na bela composição, cuja cronologia ocorre de forma vertical, fugindo da usual esquerda pra direita.

O painel côncavo de concreto criado por Poty, flutuando sobre a entrada do Guaírão, é um dos 35 painéis do artista, que o CEPHA, Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, decidiu tombar, pra garantir sua conservação  restauração.

Texto e pesquisa de Gabriel Brum Perin


Fontes de pesquisa:


Jornal Dezenove de Dezembro, disponível em: memoria.bn.br


Jornal Diário da Tarde, disponível em: memoria.bn.br


https://pergamum.curitiba.pr.gov.br/pergamum/biblioteca/index.php


Grupo de Facebook "Antigamente em Curitiba"


http://www.circulandoporcuritiba.com.br/2017/11/circulando-o-teatro-guaira.html


https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Perfil-Glauco-Flores-de-Sa


https://www.anoregpr.org.br/conheca-a-historia-de-salvador-de-ferrante-pioneiro-das-artes-cenicas-no-parana/


https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/24507/D%20-%20TEIXEIRA%2c%20SELMA%20SUELY.pdf?sequence=1&isAllowed=y



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