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329 anos de Curitiba

Ao longo do mês de março, fizemos posts e artigos sobre diversas nacionalidades/etnias que compõem a cidade de Curitiba ao longo de seus - hoje completados - 329 anos.


No presente texto falaremos sobre alguns grupos étnicos que foram, no geral, marginalizados ao longo da história de Curitiba.


População Negra


Os primeiros registros da população negra em Curitiba são da época da escravidão, no Brasil Colônia. É extremamente importante falar sobre a presença da população negra na capital paranaense porque esse é um tema muitas vezes - propositalmente ou não - esquecido.


A data das primeiras povoações no território em que hoje é Curitiba não é consensual. Ébano Pereira em 1648 encontrou um núcleo, onde hoje é localizado o Bairro Alto, de nome Vilinha. Vinte anos depois, em 1668, Gabriel de Lara se deparou com 17 famílias radicadas entre o Bairro Alto e o Atuba. A data oficial, no entanto, e a mais consolidada, é 29 de Março.


A Vila da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais foi fundada em 29 de Março de 1693, e a partir de 1721 passou a ser chamada de Vila de CuritIba. A população da Vila passou a ser contada de forma sistemática a partir de 1800.


Em 1817, Curitiba possuía em torno de 10.000 habitantes, sendo 200 deles oficialmente escravizados. Com o passar dos anos, essa proporção aumentou, chegando a mais de 20% de escravizados entre a população geral da cidade - na década de 1870, havia 2597 escravizados em Curitiba, que possuía cerca de 12 mil habitantes no total.


Esse número é proporcionalmente menor do que os de Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, ele não deixa de ser extremamente significativo. Prova disso é a herança artística, cultural e história deixada pela população negra na capital paranaense. O problema é que, muitas vezes, parte dessa herança não foi preservada pelos órgãos competentes - o que demonstra uma negligência, intencional ou não, com símbolos da cultura afro-brasileira em Curitiba.


Um exemplo de não preservação de um patrimônio histórico é a Antiga Sociedade Protetora dos Operários, sobre a qual já escrevemos em maiores detalhes aqui no Turistória. A Sociedade Protetora dos Operários foi fundada em 1883 pelo mestre de obras Benedito dos Santos Marques e tinha como objetivo dar assistência a trabalhadores, discutir melhores condições de trabalho e promover eventuais confraternizações e momentos de lazer. Benedito era um homem negro, assim como a maioria dos associados da Sociedade, que também eram da classe trabalhadora.


Ou seja, desde sua fundação a Sociedade já esteve ligada à cultura da população negra de Curitiba. No início dos anos 2000, a Sociedade foi destituída e seu prédio ganhou outras utilidades. Nos últimos anos, ela não foi restaurada por seus proprietários e nem foi tornada uma UIP (Unidade de Interesse e Preservação) pelo poder público. Até que, em 2021, o prédio da antiga foi demolido para dar lugar a um estacionamento. Assim, um patrimônio identificado com a cultura negra e com a cultura popular foi ao chão sem que houvesse o interesse em preservá-lo.



Outro patrimônio que marca a identidade negra na cidade de Curitiba - esse, no entanto, preservado - é a Igreja do Rosário. Foi fundada como Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito em 1737. Construída e frequentada por escravos, que não podiam frequentar a catedral, a Igreja desde sempre foi símbolo da resistência negra em Curitiba e no Paraná.


Na década de 1930, ela foi demolida, dando lugar à Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em 1946, e que carrega a herança histórica da primeira construção.



Um espaço de memória mais recente que também faz alusão à presença negra na cidade de Curitiba mas principalmente à imigração vinda do continente africano é o Memorial Africano. O espaço do memorial conta com a Praça Zumbi dos Palmares - em homenagem ao ex-escravizado líder do Quilombo dos Palmares -, que conta com quadras esportivas e área verde. Além do parque, há um grande portal na entrada principal, que conta com 54 colunas em alusão a todos os países do continente africano.



Atualmente, 24% da população da cidade de Curitiba é composta por pessoas autodeclaradas negras. Esse número é o maior entre as capitais do Sul do Brasil e desmente o mito de uma Curitiba branca e a narrativa de que não houve escravidão na cidade.


Outro grupo tradicionalmente invisibilizado na história de Curitiba é o indígena. Os indígenas estão presentes em Curitiba desde antes da “fundação” da cidade. O próprio nome Curitiba é de origem indígena e significa “muito pinhão”.


No território em que hoje fica a Praça Tiradentes está localizado o “Marco Zero” da cidade. Ou seja, a Praça é identificada como o ponto inaugural de Curitiba. Foi ali que, segundo a lenda de fundação da cidade, publicizada por Romário Martins, o cacique e outros integrantes da tribo indígena Tingui teriam ajudado os europeus a encontrarem o melhor terreno para iniciar o povoamento em Curitiba.


Esse episódio, do Cacique Tindiquera fincando uma vara no chão da atual Praça Tiradentes e dizendo “Core Tiba” (muito pinhão), foi representado por Theodoro de Bona no quadro abaixo.



Outro lugar que faz alusão à presença indígena na cidade de Curitiba é o Parque Tingui. Possui o nome da já mencionada tribo que esteve presente no que se convencionou de a fundação da cidade. No parque há, assim como na Praça Tiradentes, uma estátua do indígena Tindiquera. O parque foi fundado em 1996, e além da referência à presença indígena, possui também a réplica de uma Igreja construída por imigrantes ucranianos. 


Esses espaços de memória citados são de extrema importância para a preservação da memória de grupos que são muitas vezes invisibilizados - por serem minorias e não imigrantes brancos e europeus - mas não menos importantes na constituição da cidade de Curitiba.

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