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Igreja do Rosário
Começamos te contando que “o nome da igreja é outro”.....
Pois é, o nome da Igreja do Rosário em Curitiba é maior e mais emblemático do que se pensa.

Na verdade, a igreja também era outra e seu nome, real, é Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito
A gente vai te contar um pouco da história desse templo, que faz parte da esquina mais cultural e charmosa da cidade de Curitiba, junto com o Solar do Rosário, da Igreja Presbiteriana e do Palacete Wolf.

Que tal começar tentando entender o verdadeiro nome da Igreja do Rosário?


Qual a relação entre Nossa Senhora do Rosário e os homens pretos?



Criada na Alemanha entre 1400-1410, por padres dominicanos, a Irmandade do Rosário difundiu-se pelo mundo, sendo levada por missionários portugueses ao então chamado Reino do Congo. Em meados do século XVI, chega ao Brasil como a Irmandade dos Homens Pretos de Olinda, em Pernambuco, a mais do país (1627). No final do período colonial, as irmandades do rosário passam a ser constituídas pelos “homens pretos”, que eram impedidos de frequentar as mesmas igrejas dos senhores (“brancos”). Nessa época, surge o hábito dos escravos recolherem as sementes de uma plantinha que até hoje se chama “lágrimas-de-nossa-senhora” (Coix lacryma-jobi) para montarem seus terços e rezar. 

E São Benedito? 
Bem... ele era filho de negros escravizados, que ao nascer (livre), trouxe aos seus pais a liberdade, como uma promessa de seu senhor, na Itália de 1526. Entre os irmãos franciscanos capuchinhos, São Benedito sempre usou a túnica marrom, que era a cor de sua pele e também a cor da terra e do húmus (origem da palavra humildade). Devoto de Nossa Senhora, amarrou o rosário em sua cintura para poder praticar a oração o dia todo. 

Existem várias igrejas pelo Brasil afora chamadas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito.... Como já dito, a de Olinda é a mais antiga e muito documentada desde 1627 e chama-se Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Ela está também em Jundiaí (SP), em Paraty (RJ) e em capitais como Cuiabá, Salvador, Recife, Florianópolis, Niterói.... No Rio de Janeiro, a Imperial Irmandade Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos chegou a sediar a Catedral e no segundo andar da igreja, bem na região central da cidade, abriga o Museu do Negro.
E em Curitiba? 
Bem ao lado da porta principal da Igreja, que é revestida com azulejos portugueses, um dos únicos vestígios da capela original, há uma plaquinha com o nome  completo da igreja.
A primeira edificação, inaugurada em 1737, foi o terceiro templo de Curitiba, depois da Matriz e da Igreja da Ordem. Era uma pequena capela construída pelos escravos e denominada Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito que, depois de algumas reformas no início do século XIX, foi sendo ampliada, adquirindo um estilo colonial 

Durante 17 anos (entre 1876 e 1893), a humilde igrejinha de escravos acolheu os ricos ornamentos da velha Matriz, que estava sendo reconstruída. Depois desse período, a Igreja perdeu novamente as ‘belas alfaias’ (como brinca o urbenauta, o jornalista curitibano Eduardo Fenianos) e continuou com seus velhos devotos, os negros. Nessa época, as políticas de imigração para o Brasil já haviam trazido muitos europeus, a maioria colonos italianos, poloneses e alemães, que ali se juntavam aos negros para celebrar sua fé. O primeiro registro documental de uma missa com imigrantes é datado de 01 de outubro de 1882, e foi rezada por Dom Alberto José Gonçalves.

O Urbenauta comenta ainda sobre a antiga Igreja em um de seus livros que, a partir do início do século XIX, já abolida a escravatura.... ”a Igreja do Rosário passou a ser o local onde se encomendavam os mortos, por estar localizada entre o centro da cidade e o Cemitério São Francisco de Paula. Muitas pessoas, sobretudo as mais velhas, ainda a chamam de “Igreja dos Defuntos” ou “Igreja das Almas”. Em 1938, a antiga igreja de aspecto colonial, construída por mãos escravas, foi tristemente demolida, fruto de ardor clerical e desrespeito à tradição e ao patrimônio histórico da cidade”. Aparece aqui uma polêmica, porque outras fontes citam a demolição em 1931, devido ao seu péssimo estado de conservação.


Em 1931 foi o ano da morte do grande idealizador da nova construção: Monsenhor Celso Itiberê da Cunha (pároco da cidade e cura da Catedral por 21 anos). Sepultado na própria igreja, seus restos mortais se encontram na entrada lateral. 


Na página virtual da prefeitura encontra-se apenas que “A Igreja Nossa Senhora do Rosário - Santuário das Almas, construída em 1946, carrega a história de sua antecessora, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, pois foi construída no mesmo local da antiga”.

Em 1931 foi o ano da morte do grande idealizador da nova construção: Monsenhor Celso Itiberê da Cunha (pároco da cidade e curador da Catedral por 21 anos). Sepultado na própria igreja, seus restos mortais se encontram na entrada lateral. 

Quinze anos mais tarde, em 1946, é inaugurada a Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, como pode ser conhecida atualmente: em estilo “barroco tardio”, decorada com azulejaria em estilo protuguês, o último remanescente da fachada da igreja original construída pelos escravizados. Em seu interior, os azulejos representam os Passos da Paixão e foram encomendados para a reconstrução.


A história da igreja se funde a história da escravidão e tudo o que ela representa para a sociedade curitibana. Desde 2009 é celebrado ali, na festa do Rosário, um ritual de lavação das escadarias, assim como o que é feito na igreja do Bonfim em Salvador. 


Foto: Lavação das escadarias da Igreja do Rosário dos pretos por Lucilia Guimarães/SMCS


Aqui, a lavação é realizada por pessoas com religiões de matriz africana em referência ao “dia da Consciência Negra” e possui um grande significado de resistência e luta para legitimação da cultura negra, que foi a base da construção da sociedade ocidental.


Desde 1951, a igreja é atendida pela Companhia de Jesus (jesuítas) e todos os dias é rezada a Santa Missa às 17h e aos domingos tem missa em mais dois horários: uma dedicada aos feirantes às 08h30min e a outra aos turistas bem no horário do comecinho da famosa e tombada Feira do Largo da Ordem.


Como já ouvi de um bom curitibano... - “essa missa é bem na hora do fervo da feirinha, piá!”


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