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Reservatório do Alto São Francisco
O caminho da água
Quando as nascentes, bicas e chafarizes (principalmente o da praça Zacarias) espalhados pela cidade já não davam conta de abastecer a população, e para resolver a "questã", o então presidente do estado, Vicente Machado da Silva Lima decidiu criar um plano de abastecimento para a capital.

Com o perdão do trocadilho, as “águas” de março, ou, pelo menos, uma garantia delas, chegaram “atrasadas” naquele ano....pois a assinatura do contrato de construção do reservatório, só viria mais tarde, em 13 de abril de 1904. Com a assinatura do contrato para a construção da importante obra de engenharia que proveria cerca de 6.880m3 de água aos moradores da região central da cidade, ou seja, pra praticamente todo mundo, porque Curitiba era quase que resumida aos bairros centrais como São Francisco, Mercês, Alto da Glória e Batel..... o resto era tudo mato! 
A grande obra tem nome, endereço e um papel importante na história do saneamento da capital. Com mais de cem anos de atividade, estamos falando do Reservatório do Alto São Francisco, que a partir de 24 de agosto de 1908, através de quase 40 Km de canos, passou a trazer as águas dos mananciais da Serra do Mar até o centro da cidade. Apesar da grandiosidade do projeto, a ideia era simples: com a ajuda da gravidade, trazer água do Reservatório do Carvalho, no alto da Serra do Mar, através de canos, e reservá-la em uma grande caixa d’água, no centro da cidade.
O ouro cristalino guardado no Alto São Francisco

O sistema de abastecimento Carvalho-São Francisco é considerado o mais antigo de todo o Paraná, onde cerca de 17 fontes de água eram captadas e conduzidas até o reservatório do Carvalho, no município de Piraquara (cidade vizinha, que fica na região metropolitana), e dali a água era levada ao centro de Curitiba. Até 1926, esse processo era feito exclusivamente por gravidade, mas como Curitiba já crescia em ritmo acelerado, o volume de água que chegava apenas com o desnível já era insuficiente para o abastecimento das quase 80 mil pessoas, que então povoavam a capital. Em uma nova empreitada, uma casa de bombas foi construída no Reservatório do Carvalho e através da queima de carvão, as bombas tinham energia suficiente para empurrar com mais força, a água, morro à baixo. 
A casa de bombas, construída nos mananciais da Serra, hoje está, literalmente, debaixo d’água. Com o aumento acelerado da demanda hídrica, só o sistema Carvalho-São Francisco já não era mais o suficiente e o grande reservatório do Piraquara I (antigo Cayuguava) foi construído inundando toda a construção, deixando apenas uma alta chaminé, que chama a atenção dos visitantes no local. 

Em Curitiba, o reservatório do São Francisco foi preservado e continua em funcionamento. Com pouco mais de 110 anos, o local foi integralmente tombado pelo município em 1990 e hoje é administrado pela Companhia de Saneamento do Paraná (a SANEPAR).  

Jardim, casa de máquinas, chafariz, portão de entrada, muros e o próprio reservatório, que fica abaixo dos jardins... 

Todo esse patrimônio em estilo eclético com traços europeus e ornamentos geométricos é dificilmente percebido. Para quem passa na rua, é difícil imaginar que aquele local ainda carrega o nobre propósito de guardar e distribuir água. Apesar de estar no centro da cidade, falar do Reservatório do São Francisco é falar também do sistema de abastecimento integrado que fornece água para alguns bairros da capital. É também falar de parte da história de bairros como Tarumã, Alto da XV, Batel e do próprio São Francisco, onde estão alguns dos reservatórios mais icônicos da cidade, construídos de acordo com o crescimento da população e com certo apelo arquitetônico


É debaixo dos jardins que a “mágica acontece”



Durante seus mais de cem anos de funcionamento, o reservatório deu uma pausa em suas atividades apenas em 2009, para dar seguimento a uma obra de limpeza e impermeabilização das suas duas câmaras e adequar sua estrutura às demandas da cidade. Durante o processo, o reservatório foi completamente esvaziado, revelando um espaço totalmente desconhecido e com uma arquitetura peculiar. Os alicerces em formato de arcos e abóbadas, construídos com tijolos maciços, muito comuns na época, porém, pouquíssimo utilizados nos dias de hoje.

As duas câmaras do Reservatório do São Francisco durante o processo de esvaziamento, limpeza e impermeabilização. Foto: Gazeta do Povo.

A arquitetura impressiona tanto pelo tamanho quanto singularidade, já que algo parecido foi observado apenas em Lisboa, onde um reservatório semelhante (Reservatório da Patriarcal) funcionou durante os anos de 1860 a 1940 e hoje abriga o Museu da Água em Portugal, ou seja, além desses dois reservatórios (Curitiba e Lisboa) não há outros registos conhecidos e preservados nos dias de hoje.



Uma pena que a reforma durou pouco tempo e o acesso a esse local inusitado foi reservado aos técnicos, pequenos grupos de pessoas (funcionários da empresa de saneamento responsável pela manutenção) e algumas equipes da imprensa, não contemplando a população em geral, que até hoje não faz ideia, a não ser pelas fotos, de como é o interior do reservatório.

Outras memórias...


Além do reservatório  do São Francisco, Curitiba ainda possui mais alguns reservatórios icônicos para a cidade, como o Reservatório do Alto da XV, que foi construído pra suprir as demandas da população curitibana na década de 40. Assim como no São Francisco o reservatório do Alto da XV, que na verdade fica no bairro Cajuru, também recebeu, durante muitos anos, as águas dos Mananciais da Serra.



Os canos que levavam água para o reservatório traçavam um caminho chamado Estada do Encanamento (atual Vitor Ferreira do Amaral). Nos tempos da segunda guerra o caminho foi pista de pouso para aviões. e  os canos passavam pelas 



Naquele tempo, além das fazendas, carroças, e tonéis de vinho, pouca coisa se via por ali... a obra de trazer água da Serra, trouxe também a oportunidade de crescimento para os imigrantes  que haviam chegado na capital e estabelecido suas propriedades na região.



Hoje, os grandes canos de metal, que passavam pela região e cortavam as propriedades dos Bigarella, Schaffer, Languer e Hauer, estão todos debaixo da terra, e daquela época só ficaram histórias e lembranças....

Entrevista do jornal Tribuna do Paraná, mostra descendentes e antigos moradores que contam parte da história da "Estrada do encanamento" e de como a região se desenvolveu ao longo dos anos.

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