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Imigração Ucraniana em Curitiba

A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022. já conta com milhares de mortos e pessoas, em especial ucranianos, se deslocando, fugindo do conflito, em busca de melhores condições de vida.


A imigração é uma prática tão antiga quanto as primeiras civilizações, e acontece todos os dias em diversas partes do mundo. No presente texto, fazendo um gancho com o contexto atual, falaremos sobre a imigração ucraniana em Curitiba, que já acontece há mais de um século.


Entre todos os estados do Brasil, o Paraná é o que mais recebeu ucranianos. As primeiras levas imigratórias datam do fim do século XIX, por volta de 1895. À época, eram comuns as campanhas incentivando a imigração para o Brasil, uma vez que o país havia recém abolido a escravidão (1888) e necessitava de novas fontes de mão de obra.


Embora a data oficial utilizada pela Prefeitura de Curitiba para o início da imigração ucraniana seja 1895, há registros de imigrantes que já haviam chegado em terras paranaenses alguns anos antes. Em 1891, por exemplo, oito famílias de ucranianos se instalaram na Colônia Santa Bárbara, entre Palmeira e Ponta Grossa. A data de 1895 foi escolhida por ter sido o ano a partir do qual grandes levas migratórias começaram a chegar no Paraná.


Na cidade de Curitiba, várias regiões/bairros possuem a identidade de povos imigrantes que ali se estabeleceram. Santa Felicidade, por exemplo, é comumente identificada pela imigração italiana; o centro, pela imigração árabe. No caso da imigração ucraniana, o bairro reconhecido pela presença dos imigrantes é o Bigorrilho. Nele se encontram, atualmente, diversos espaços que buscam preservar a memória e a cultura da comunidade ucraniana que se instalou na capital paranaense.


As ondas migratórias não são, em geral, constantes e lineares. O número de pessoas que sai de seu país ou de sua cidade varia muito de acordo com cada contexto histórico. Acontecimentos como tragédias naturais, guerras e conflitos - como é o caso atual na região da Ucrânia e da Rússia - costumam gerar grandes fluxos migratórios. Outras ondas migratórias podem ser motivadas por surgir, em determinado local, oportunidades de trabalho.


Esse último mencionado foi o caso com uma das ondas migratórias de ucranianos e seus descendentes para a cidade de Curitiba. Nas décadas de 1950 e 1960, a cidade de Curitiba estava buscando se “modernizar”, e em consequência disso diversas construções de grande porte foram realizadas. Entre elas, o Centro Cívico, os edifícios Dom Pedro I e Dom Pedro II, da Universidade Federal do Paraná, a Biblioteca Pública do Paraná e o Teatro Guaíra.


Essas obras demandaram uma mão de obra numerosa, e boa parte dessa mão de obra foi suprida por descendentes de imigrantes ucranianos que já haviam se instalado em outras cidades do Paraná, e que agora vinham para a capital em busca de um trabalho mais rentável. Havia, também, a busca por condições de estudos para seus filhos, uma vez que Curitiba concentrava as Universidades do estado à época. Assim, grandes levas de imigrantes ucranianos vieram para Curitiba, em especial para os bairros Bigorrilho e Água Verde. 


É dessa época, inclusive, a construção (ou reconstrução) de um dos espaços que hoje se mantém como símbolo das tradições ucranianas em Curitiba: a Catedral Ortodoxa Ucraniana São Demétrio, localizada hoje na Av. Cândido Hartmann, 1310. A Igreja Ortodoxa São Demétrio foi a segunda igreja ortodoxa de Curitiba e foi inaugurada em 1933. Inicialmente ficava na esquina das ruas Capitão Joseph Pereira Quevedo e Joaquim Silva Sampaio. Em busca de melhores condições de acesso e de estrutura para a igreja, sua nova sede foi construída entre 1955 e 1960 pela comunidade ucraniana no mesmo endereço onde permanece até hoje. Os recursos para a obra foram levantados através de eventos mensais de congraçamento, que eram realizados após a missa dominical, como jantares, bingos, matinês e rifas.


A catedral, essa escultura religiosa pintada à mão pelos obreiros do campo que vieram morar na cidade, nas décadas posteriores a 1950, parece condensar os signos do passado e da tradição ucraniana com fortes compromissos culturais étnico-religiosos. (TAMANINI, 2016)


Outro espaço dedicado a preservar a memória da comunidade ucraniana de Curitiba é a Praça da Ucrânia. Não à toa, está localizado no bairro Bigorrilho, na esquina das avenidas. Capitão Souza Franco e Padre Anchieta.


Na década de 60 em Curitiba havia uma demanda de diversas etnias para que fossem criados espaços de memória que fizessem referência a seus países de origem. Assim também o fez a comunidade ucraniana.


Tendo em vista esse fim, os dirigentes de quatro das principais entidades da colônia ucraniana - Clube Ucraíno-Brasileiro, Igreja Católica do Rito Oriental Ucraniano, Igreja Ortodoxa Ucraniana e Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana -  se uniram. Juntas, as entidades estabeleceram uma diretriz consensual para que, por vias legislativas, através dos deputados estaduais Pe. Valdomiro Haneiko e Rafael Kulisky, a quadra então conhecida por "Campo do Potí", fosse designada como Praça Ucrânia. O espaço era antes utilizado por uma entidade esportiva de nome “Poti Esporte Clube”. 


Após os trâmites necessários, a Praça foi fundada em 1967. Junto a ela foi inaugurado seu principal monumento: uma estátua do poeta ucraniano Taras Chevtchenko. A placa que marca a inauguração da praça diz:


O COMITÊ PRÓ CONSTRUÇÃO DA PRAÇA DA UCRÂNIA E

DO MONUMENTO DE TARAS CHEVTCHENKO EXTERNA

SUA GRATIDÃO AOS ILUSTRES MEMBROS DA

CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA E AOS EMINENTES

PREFEITOS GAL. IBERÊ DE MATTOS, IVO ARZUA

PEREIRA E ENG.º OMAR SABBAG, PELOS ATOS

PROVIDENCIAIS QUE POSSIBILITARAM A CONSTRUÇÃO DA

PRAÇA DA UCRÂNIA E DESTE MONUMENTO.


CLUBE UCRAINO BRASILEIRO

IGREJA CATÓLICA UCRANIANA

IGREJA ORTODOXA UCRANIANA

SOCIEDADE DOS AMIGOS DA

CULTURA UCRANIANA


Tradicionalmente às sextas-feiras à noite, acontece há décadas na praça uma feirinha gastronômica, com opções de pratos de diversos lugares do mundo.


Além destes, outro lugar que faz alusão à presença ucraniana em Curitiba é o Memorial Ucraniano. O memorial fica no interior do Parque Tingui, localizado no Bairro Pilarzinho. Fundado em 1995, em referência aos 100 anos da imigração ucraniana em Curitiba, o memorial conta com a réplica da antiga capela de São Miguel Arcanjo, da Serra do Tigre, localizada no município de Mallet/PR, com sua cúpula dourada, de madeira e em estilo bizantino. Mallet, assim como Prudentópolis, é uma das cidades paranaenses que mais receberam imigrantes ucranianos. No interior da capela, há uma exposição permanente de pêssankas (ovos pintados à mão), ícones e bordados.


A capela de São Miguel Arcanjo foi finalizada em 1901 e é o primeiro templo construído pelos imigrantes ucranianos no Brasil. Dada a sua importância, ela foi tombada como patrimônio histórico pelo governo estadual em 1982. O fato de ela ter sido a capela escolhida para ter uma réplica no memorial localizado na capital do estado é também um demonstrativo de sua relevância histórica, arquitetônica e cultural. 


Ao lado da capela há também um campanário, que simboliza a integração à nova terra e a importância da religião como mantenedora da unidade cultural. Numa casa típica da arquitetura ucraniana funciona a loja de souvenirs, onde são vendidos produtos artesanais.


Ao longo do ano, Festas típicas e apresentações folclóricas acontecem. Em Abril, acontece no Sábado de Aleluia (a Benção dos Alimentos); em agosto, a Festa Nacional da Ucrânia; em outubro, a Festa da Colheita; em novembro, a Festa de São Nicolau.


Locais de memória como os citados só reforçam a presença ucraniana na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, e contribuem para manter viva a tradição de uma das diversas etnias essenciais para a formação da cidade de Curitiba.

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