Layout do blog

Mesquita de Curitiba
Não é sobre pontos turísticos ou os clichês “o que conhecer” ou “onde ir” em Curitiba....
É sobre uma questão universal. É sobre seres humanos! É sobre quem são os muçulmanos no mundo, e em Curitiba. 

Para conhecer melhor e aproveitar a visita à Mesquita de Curitiba, cujo nome oficial é Mesquita IMAM ALI ibn ABI TALIB, o Turistória preparou uma “aulinha” sobre essa que é a segunda maior religião do planeta....
Já na entrada avistamos a faixa de azulejos verdes com uma inscrição em árabe, que quer dizer "Em nome de Allah, o misericordioso".  

Na chegada, o grupo de 10 pessoas (só um homem) carregado de preconceitos, achando que, pelo simples fato das mulheres, serem obrigadas a cobrir a cabeça com um lenço para poder entrar no templo, estariam sendo subjugadas, como julgávamos que fossem todas as mulheres do oriente... Ledo engano! 

O Hijab (ato de cobrir a cabeça e o corpo) é uma opção! O fato é que a gente aprende desde cedo a associar o véu a regimes opressores, mas usar véu é anterior ao islã e já foi adotado também por outras religiões, como o judaísmo, hinduísmo e até no início do cristianismo. E, pensando bem, em terras de muito vento e ar seco é até uma questão de proteção.  

Na verdade, lá dentro a gente entende que as mulheres usam sim, por vários motivos: porque gostam, porque os lenços são lindos ou elegantes, porque acham que assim vestidas os homens prestam mais atenção em suas personalidades e opiniões e não apenas na sua aparência física, porque têm orgulho de sua cultura e querem ser reconhecidas como muçulmanas, ou simplesmente porque Allah pediu que elas usassem...
 Em essência, a exposição do corpo da mulher é o que a aprisiona a uma cultura de valorização da aparência física. O véu é tido como um ‘escudo’ entre a mulher e o homem que não faça parte de sua intimidade. Aliás, na cultura muçulmana não existe diferença entre os gêneros, mas sim entre quem pratica ou não a fé islâmica.
Mas vamos lá... 
Quem são, afinal, as pessoas que frequentam as Mesquitas?

Muçulmano é todo indivíduo que pratica o ISLÃ e a religião islâmica é centrada na vida e nos ensinamentos do profeta Muhammad (em português, Maomé). Para os muçulmanos, o islã é a versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em épocas e lugares anteriores aos profetas Abraão, Moisés e Jesus. O Alcorão (ou Corão) é seu texto sagrado, uma versão que não foi alterada pelo tempo ou por falsos profetas. 
O Islamismo tem cinco pilares: FÉ, ORAÇÃO, JEJUM, CARIDADE E PEREGRINAÇÃO e, como em outras religiões, possui diferentes vertentes, sendo as mais conhecidas os Sunitas e os Xiitas. Esses dois grupos surgiram no mesmo ano em que o grande profeta Maomé faleceu: 632 dC.

Um grupo (sunitas) acreditava que o novo líder deveria ser escolhido pelo povo, e outra corrente (xiitas) defendia que o sucessor deveria ser alguém da família do Profeta. Como Maomé não tinha filhos homens, o candidato natural para substitui-lo seria o seu genro. Os xiitas queriam que Ali Bin Abi Talib, genro de Maomé, fosse o novo líder. Já os sunitas acreditavam que o povo muçulmano deveria eleger seu novo líder.  Assim, Abu Bakr, amigo do profeta e um dos primeiros seguidores do islamismo, foi eleito. Abu Bakr tornou-se um califa (líder espiritual) e ajudou a expandir a religião islâmica para fora da Península Arábica. Atualmente, os sunitas representam quase 90% dos muçulmanos.


Até hoje e não por acaso, a gente associa os xiitas ao radicalismo. Eles são mesmo mais rígidos nas tradições do livro sagrado e seguem à risca as antigas interpretações da Lei Islâmica (a Sharia). A Mesquita de Curitiba é um dos poucos lugares do mundo em que xiitas e sunitas rezam juntos.


Foto: Leitura do Bhagavad-gita em cerimônia diária. Ao fundo, altar fechado para que as divindades se alimentem ao som de mantras e trechos das escrituras sagradas.

Deixando radicalismos e brigas religiosas de lado, vamos conversar sobre o que une as pessoas em todo o mundo: a arte e a cultura...
É aqui que entra o Turistória, porque com o conhecimento histórico, qualquer experiência nessa praia fica muito mais rica e transformadora. Concorda?

Tem até uma citação do cineasta iraniano Majid Majidi, que concorreu ao Oscar em 1998 (com o filme “Filhos do Paraíso”), por azar no mesmo ano de “A Vida é Bela”: A linguagem da política, e a política em si, sempre criaram diferenças entre as pessoas. Mas a linguagem artística e cultural da nossa civilização sempre agiu de outra maneira: ela sempre uniu as pessoas. (...)" Basicamente, cultura e arte são baseados em características comuns entre as pessoas. Não importa o país e a cultura, você sempre acredita em amizade, nos valores humanos, e você sempre acredita na paz...
 (Aliás, esse trecho a gente tirou de um blog muito legal, de uma brasileira, sobre o Irã: o “chá de lima-da-Pérsia” - vale uma olhadinha!) 

Pensando em tudo isso, a gente resolveu escrever sobre o que sentíamos ao sair, não ao entrar na Mesquita de Curitiba. 
Lá dentro, num mundo de símbolos sagrados, nos vimos entre muitas manifestações de arte, principalmente nos azulejos e na tapeçaria, e também de livros: são livros por toda parte!!
Nesse ambiente, sentadas sem sapatos e com as cabeças cobertas, tivemos uma aula sobre o Islamismo e seus valores. Ainda sobre arte e cultura, nosso grupo recebeu duas notícias: uma boa e uma ruim. A boa foi que o primeiro museu de arte e cultura islâmica permanente do Brasil está também ali, em um espaço anexo à Mesquita, inaugurado em 2015. A má notícia é de que ainda não foi aberto ao público, pois o acervo ainda é restrito a poucas peças.
A educação é um valor supremo para os muçulmanos, pois formar novas gerações e transmitir a cultura islâmica é muito importante. No Brasil, há somente duas escolas muçulmanas, exatamente onde estão as maiores colônias: na cidade de São Paulo e em Foz do Iguaçu. Em Curitiba, há um grupo de escoteiros muçulmanos.  

Mas a educação é apenas um caminho para a busca do equilíbrio (tão sonhado por todas as religiões). Para atingir esse equilíbrio, os muçulmanos buscam desenvolver o lado espiritual sem deixar de lado o mundano: o lado material e as necessidades do ser humano. Quando alguém investe seu tempo e energia em apenas um desses lados, jamais atingirá o equilíbrio, tão necessário para que se alcance a paz, interior e mundial.
E assim a gente chega ao grande valor do Islamismo: a PAZ, que está até em seu nome. A palavra ISLAM deriva de SALAM, que significa PAZ. 

Ninguém questionou, afinal todo mundo já havia entendido, mas mesmo assim o guia quis reforçar as diferenças entre o Estado Islâmico (EI) e o islamismo, que condena o extremismo e é uma religião de paz, mas sofre com os estigmas e preconceitos que um grupo terrorista vem impondo a uma religião milenar.  
E assim, enriquecidas com tanta cultura e esclarecimentos, deixamos um templo religioso incrivelmente belo, bem ali, no centro histórico da nossa capital. 

A Mesquita de Curitiba é uma das 18 existentes no Paraná e recebe mais ou menos 30 mil visitantes por ano. Quer triplicar esse número quando o museu começar a bombar. Seu nome é uma homenagem a um grande personagem da cultura muçulmana: IMAM é um guia espiritual; ALI ibn (filho de) e ALI TALIB, primo e genro de Maomé, foi um dos responsáveis pela compilação dos escritos do Alcorão Sagrado. 
Ah! E a “Mão de Fátima”? 
A Mão de Fátima (ou Hamsá) é usada como um amuleto contra o mau olhado e para atrair energias positivas. É a simbologia de uma mão que consegue deter o mal, mas também transmite poder, força e proteção.
Mas e por que Fátima? 
Fátima foi a filha mais nova do profeta Maomé com sua esposa Cadija. Nasceu em Meca, viveu apenas 18 anos (de 614 a 632 dC), mas foi a única a dar herdeiros a seu pai, tendo cuidado dele até a morte. Para os seguidores do Islamismo, Fátima é uma mulher ‘santificada”, considerada a “Senhora das Mulheres do Paraíso”. Além disso, os dedos da mão de Fátima representam os cinco pilares da religião, dos quais a gente já falou: 
Shahada – fé; Salat – oração; Zakat – caridade; Sawm – jejum; e Haji – peregrinação.

Na atualidade, o símbolo Hamsá, usado tanto por judeus, como por islâmicos, tem sido utilizado pelos defensores da paz no Oriente Médio, como uma forma de mobilização pelo fim dos conflitos na região.

Com certeza vale uma visita!!!
Por CYNTIA MARIA 22 ago., 2023
O centenário de um dos maiores botânicos do Brasil. Gerdt Hatschbach, o o homem que coletava.
Por Gabriel Brum 05 mai., 2023
Conheça a história do teatro curitibano, que tem sua expressão máxima no Teatro Guaíra, e possui uma tradição de mais de 160 anos.
Por Gabriel Brum Perin 20 mar., 2023
Saiba mais sobre a história da Umbanda no Brasil e sobre o maior terreiro de Umbanda do Paraná
Mais Posts
Share by: