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Dia Nacional da Araucária: a árvore símbolo do Paraná corre perigo


Em 2005, através de um decreto presidencial, foi criado o Dia Nacional da Araucária, comemorado em 24 de junho. A escolha pela data se deu em virtude da festa de São João coincidir com a época do pinhão - semente da Araucária.


A motivação para a criação desse dia foi a conscientização a respeito da exploração e do desmatamento da árvore, que aumenta cada vez mais.


Os registros fósseis mais antigos de que se têm registro indicam que o gênero Araucaria já estava estabelecido desde o período Jurássico (entre 199 e 145 milhões de anos antes da era comum). A palavra Araucaria possui seu radical na palavra “Arauco” (na língua mapuche, “água calcária”), uma região do Chile, e o termo específico angustifolia provêm do latim “folhas estreitas”. Popularmente a árvore é também conhecida como “Pinheiro”.


A maior parte dos Pinheiros brasileiros está localizada nos três estados da Região Sul do Brasil, em um ecossistema da Mata Atlântica - Floresta Ombrófila Mista. Assim, falar do seu desmatamento e corte ilegal significa também falar do desmatamento do bioma Mata Atlântica. No Paraná, as araucárias ocupavam aproximadamente 31% do território do Estado.


Além da Região Sul, no Brasil a árvore também se encontra em áreas esparsas no Sul de São Paulo e no sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro, em áreas com altitude superior a 500 m. Fora do país, ela pode ser observada em algumas regiões da Argentina e do Paraguai.


Mesmo assim, a araucária aparece muitas vezes ligada à identidade do Sul do país, principalmente do Estado do Paraná. Comumente, a árvore é associada ao frio, ao ambiente seco e de características campestres, como se fizesse parte da Taiga - bioma de árvores coníferas. Mas vale lembrar: a Mata de Araucária é tropical!



Pinheiro, símbolo do Paraná


Para entender como e quando começou a ser construída essa identidade no Paraná, precisamos voltar ao início do século passado. Com a proclamação da República em 1889, estava posta a necessidade de criar novos símbolos, novas identidades para o novo regime, tanto a nível nacional quanto regional.


Foi nesse contexto que, nas primeiras décadas do século XX, um grupo de artistas, intelectuais e políticos criou o “Movimento Paranista”, destinado a forjar uma identidade regional para o Paraná. Um dos símbolos escolhidos para compor essa identidade - e o que foi mais utilizado - foi o pinheiro.


Exemplo disso é a Revista Illustração Paranaense, principal veículo dos ideais paranistas, que buscava mostrar o que era o Paraná e a cultura de seu povo. Entre 1927 e 1930 - e com uma edição isolada em 1933 -, foram publicadas 31 edições da revista, e em todas elas, com exceção de duas, estava presente a imagem do “Homem Pinheiro”. O Homem Pinheiro foi uma criação do artista paranaense João Turin, que combinou o Homem Vitruviano, criação renascentista de Leonardo Da Vinci, com o pinheiro paranaense.


O próprio nome da capital paranaense possui relação com a árvore e demonstra a sua grande presença em nossas terras. Atualmente, boa parte da população entende que “Curitiba” tem origem na etimologia indígena e significa terra de muitos pinheiros, terra de pinheirais. Não à toa, tanto a araucária quanto o pinhão são símbolos da cidade — escolhidos também pelo movimento paranista.


A reprodução das araucárias envolve também outros símbolos importantes da identidade dos estados do Sul do Brasil: o pinhão e a gralha-azul. O órgão reprodutor feminino da araucária, a pinha, forma o pinhão, que são as sementes da árvore. O pinhão é amplamente consumido na região Sul, e utilizado em muitas receitas gastronômicas, como sopas, farofas, risotos, etc. Após a polinização e a formação das sementes, estas são dispersas através de eventos climáticos e animais, sendo o mais conhecido a gralha-azul.


Caminhando pelas ruas de Curitiba, podemos nos deparar com a paisagem urbana decorada com várias imagens ligadas à araucária, seja a própria árvore ou sua semente, o pinhão.

Desmatamento de araucária no Paraná


A araucária é a principal espécie da Floresta de Araucária, mas não a única. Além dela, o bioma concentra a famosa canela sassafrás, o raríssimo xaxim, a valiosa imbuia e a tradicional planta indígena, a erva-mate; na fauna, ela resguarda espécies em risco de extinção, como a gralha-azul e o papagaio charão.


Dentre todas essas, porém, a araucária se destaca não só por ser a mais numerosa, mas porque é a mais desmatada. Isso por conta do seu graúdo tronco cilíndrico e reto, que pode chegar a mais de 50m de altura e 2m de diâmetro (e a 700 anos!). Além disso, sua madeira é lisa e por isso bastante visada pela indústria madeireira — a casca da árvore, de cor arroxeada, é resistente e dura, sendo também muito utilizada em caldeiras.


Estima-se que atualmente a floresta de araucárias ocupa 3% de sua área original. Isso é fruto de décadas de desmatamento da Mata Atlântica, bioma esse que possui menos de 30% de sua área restante preservada. Em estudo publicado em 2019 na revista Global Change Biology, há a previsão de que a espécie chegue ao fim até 2070 se nenhuma estratégia de conservação for tomada.


Esses números vêm de vários séculos, e tiveram seu auge nas décadas de 1950 e 1960. Na década de 1960, por exemplo, o Paraná perdeu cerca de 240 mil hectares/ano de florestas, à custa da expansão agrícola na região oeste. Em 1963, mais precisamente, a araucária foi responsável por 92% das exportações madeireiras do Brasil todo.

Tentativas de proteção ambiental

Entretanto, foi somente no século XXI que iniciativas públicas de combate ao desmatamento de araucária entraram em vigor. Em 2002, foi constatado que somente 0,2% da Floresta de Araucária no Paraná estava protegida em Unidades de Conservação Nacional. Dois anos depois, chegou-se ao fato de que apenas 0,8% do total do bioma no estado mantinha suas características originais. Ou seja, os pinheiros corriam risco de desaparição no Paraná, que inicialmente era o maior reduto dessa espécie.


Desde então, o Ministério do Meio Ambiente — quando este ainda estava preocupado com a preservação ambiental — coordenou esforços para a criação de novas Unidades de Conservação de Floresta de Araucária, bem como para a aprovação de leis que garantissem a preservação dos pinheiros dentro e fora de reservas ambientais. Com isso, em 2005 e 2006 foram inauguradas 8 novas Unidades de Conservação em Santa Catarina e no Paraná.


São elas: a Estação Ecológica da Mata Preta e o Parque Nacional das Araucárias (em SC); e a Reserva Biológica das Araucárias, a Reserva Biológica das Perobas, o Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas e o Parque Nacional dos Campos Gerais (em PR).



Nas reservas, é estritamente proibido o corte de uma araucária – quando há, a extração é ilegal, e os responsáveis passivos de detenção. Nas áreas que não são de conservação ambiental, como nas regiões urbanas e rurais, desde 2014 a legislação nacional prevê multa e até detenção em casos de corte de árvores em risco de extinção — como o pinheiro, a imbuia, o cedro vermelho e o sassafrás. Neste caso, os responsáveis pelo corte estarão em maus lençóis, pois o custo é alto (e ainda terão que plantar novas mudas!).

Um caminho longo a ser percorrido (e mantido).

 

Seria muito estranho se o símbolo do Paraná (e de Curitiba) se extinguisse. Certamente, os paranaenses entrariam em uma crise existencial. Mas, também seria triste, doloroso e um prelúdio do que nos aguarda futuramente.


Hoje, as araucárias restantes majoritariamente se encontram fora das reservas ambientais, isoladas umas das outras, e em circunstâncias completamente alteradas em relação à cobertura vegetal original. Por isso, novas Unidades de Conservação de Floresta de Araucária devem ser criadas. Do mesmo modo, é fundamental que novas políticas de preservação e reflorestamento sejam executadas. Caso contrário, os pinheiros correm risco.

 

Para evitar o desastre que nós mesmos causamos, continua a ser fundamental o trabalho das ONGs, dos órgãos de proteção ainda comprometidos com a preservação, e da ciência, que há muito cria maneiras de manter a Floresta de Araucária viva.

Texto e pesquisa de Gabriel Brum Perin

Fonte de pesquisa:  


http://www.bioblog.com.br/24-de-junho-dia-nacional-da-araucaria/


https://apremavi.org.br/dia-nacional-da-araucaria/


https://apremavi.org.br/araucaria-angustifolia-uma-analise-da-especie-sob-o-vies-da-historia-ambiental-global/


http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364563591_ARQUIVO_Alessandra.anpuh2013.pdf


https://www.academia.edu/43199323/A_ARTE_DE_JO%C3%83O_TURIN_E_A_RECEP%C3%87%C3%83O_DOS_CL%C3%81SSICOS_NO_MOVIMENTO_PARANISTA_1920_-1930_


https://porem.net/2020/06/24/araucarias-podem-ser-extintas-em-50-anos/


https://www.google.com.br/amp/s/revistagalileu.globo.com/amp/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2020/09/araucaria-pode-ser-extinta-nas-proximas-decadas-por-conta-de-desmatamento.html


https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/as-marcas-do-paranismo-na-arquitetura-de-curitiba/


https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/veja-como-o-movimento-paranista-e-representado-na-arquitetura-contemporanea/?ref=link-interno-materia


https://www.plural.jor.br/noticias/vizinhanca/dezenas-de-araucarias-sao-derrubadas-em-campo-largo/


https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Sustentabilidade/noticia/2020/06/focos-de-queimada-na-mata-atlantica-ultrapassam-4-mil-e-poe-araucarias-em-risco.html


https://conexaoplaneta.com.br/blog/projeto-de-lei-ameaca-a-sobrevivencia-da-ja-vulneravel-floresta-com-araucaria-do-brasil/


https://grupoqualityambiental.com.br/2020/12/28/10-milhoes-de-araucarias-para-recompor-mata-nativa-e-salvar-a-especie-da-extincao/

http://blogeleuza.blogspot.com/2012/09/praca-osorio-curitiba-pr.html


https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/campo-e-negocios/noticia/2021/04/25/pinheiro-produz-16-pinhas-em-apenas-um-galho-na-serra-de-sc.ghtml


http://www2.comunitaria.com.br/colheita-de-pinhao-so-pode-ser-realizada-apos-dia-15-de-abril/


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