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Palacete Wolf, um casarão mal-assombrado?

Localizado na frente da Igreja do Rosário, está o recém restaurado Palacete Wolf. Este sobrado amarelo foi construído, ao que tudo indica, em 1880, a pedido do imigrante austríaco Fredolin Wolf. Fredolin era o segundo filho do casal Joseph e Thereze Wolf, que haviam chegado ao Brasil entre 1856 e 1862. A família Wolf era proprietária de muitos imóveis e lotes de terra, incluindo uma grande chácara na região do Barigui - possuíam também serraria, olaria e moinhos.


Sabe-se que em 1875 José requereu ao município de Curitiba um lote de terra em frente à Igreja do Rosário, onde construiu uma casa. Possivelmente essa casa tenha sido demolida - ou ampliada -, dando origem ao belo sobrado que conhecemos, que mistura a arquitetura colonial, germânica e neoclássica.

Ao que parece, nunca foi interesse dos Wolf residir no sobrado, mas sim alugá-lo. Não à toa, o Palacete Wolf já foi sede da câmara de vereadores e da prefeitura de Curitiba; foi o quartel-general do exército, onde o temido Ewerton de Quadros decretou a morte do Barão do Serro Azul e de mais cinco companheiros seus em 1895, no contexto da Revolução Federalista (1893-1985); e já funcionou como ateliê, livraria e unidade escolar. Em 1974, o município desapropriou o imóvel, tornando-o sede da Fundação Cultural de Curitiba até 2006. Atualmente, abriga uma pasta de turismo do município. Desde 1981, é tombado como patrimônio cultural do Paraná. 


Pela sua relação com a morte do Barão do Serro Azul, muitos enxergam o Palacete Wolf como um local mal-assombrado ou de energia negativa. Vale ressaltar, porém, que o Barão não ficou preso ali.

Origens 


A chegada da família Wolf ao Brasil se deu em demoradas etapas. Joseph Wolf veio sozinho e desembarcou na cidade de Joinville/SC em 6 de janeiro de 1856. Sua esposa, Thereze, e seu filho, Fredolin, chegaram somente seis anos depois, em 27 de julho de 1862. Em documentos de época, consta que eram originários da cidade de Buron, Morávia. Dando uma rápida pesquisada, descobri que essa cidade não existe. Entretanto, sua pronúncia é quase idêntica à de “Brno”, que, por sinal, é a capital da Morávia do Sul (hoje, República Tcheca e, na época, parte do Império Austro-Húngaro). É muito provável que Joseph tenha trabalhado no Brasil como agricultor para financiar a vinda de sua família. 

A chegada a Curitiba


Não se sabe ao certo quando os Wolf migraram para Curitiba, possivelmente ainda na década de 1860. A família Schaffer, por exemplo, chegara a Joinville em 1863, vinda da Morávia, e no ano seguinte já se encontrava em Curitiba. Anos depois, Francisco Schaffer se casaria com Gabriela Wolf, filha de Joseph e Thereza. 

Estabilizados em Curitiba, os Wolf tiveram os seus demais filhos: Alfredo, Hugo, Francisco, Gabriela, Sofhia e Thereza. Tinham uma chácara na região do Barigui, onde, além da agricultura e da pecuária, desenvolveram olaria, serraria e moinhos. A prosperidade econômica possibilitou a aquisição de novas propriedades, dentre elas um terreno de 100 palmos no Largo do Rosário, em frente à Igreja do Rosário. Ali foi construída uma casa, que já em 1877 servia como sede da Loja Maçônica Concórdia IV. Ao que tudo indica, o espaço era destinado a reuniões sociais, aluguéis e outras finalidades urbanas, mas não para moradia da própria família, que se mantinha na zona rural da cidade.

O palacete


De acordo com Marilena Wolf de Mello Braga, trineta de Joseph, foi o mais velho, Fredolin, quem construiu o Palacete Wolf. As pessoas que já pesquisaram e escreveram sobre o tema tendem a uma mesma versão: o palacete é de 1880, e teria sido construído no mesmo local da casa (o que implica, portanto, numa demolição ou ampliação desta). Fredolin era sócio de seu pai, que na época se dedicava, entre outras coisas, a incentivar, financiar e a dar suporte logístico à vinda de mais famílias alemãs. O Palacete Wolf parece, portanto, ter sido planejado para servir de acomodação temporária aos imigrantes. 

O que se sabe, porém, é que pouco tempo depois a família já tinha interesse em alugar ou até vender o imóvel, como podemos comprovar por este anúncio:

Até hoje (bem) preservado, muito por conta de seu tombamento como patrimônio cultural do Paraná em 1981, o Palacete Wolf se destaca no cenário curitibano. Isso porque é um dos apenas 5 (cinco!) imóveis de estilo arquitetônico colonial que restaram em Curitiba. É também nítida a presença dos traços neoclássicos (simetria) e germânicos (telhas de cerâmica em forma de escamas e paredes dos fundos em enxaimel). O casarão é em formato de L e há um pequeno pátio interno, nos fundos (foto a seguir).

Usos do palacete


A família Wolf foi proprietária do palacete até 1974, quando o vendeu à prefeitura de Curitiba. Nesses quase 100 anos, diversas instituições passaram pelo casarão. Quem melhor sintetiza esse período é Cassiana Lacerda:

 

OS DIVERSOS USOS [do Palacete Wolf]:

1880: Colégio Curitibano, fundado por Nivaldo Braga e que teve entre seus alunos Romário Martins.

1886: Colégio Parthenon Paranaense de Laurentino Azambuja [do qual Dario Vellozo foi aluno]

1886 - 1891: Corpo policial da Província.

1891: Residência de Joaquim Monteiro de Carvalho.

1892: manteve-se como residência de Monteiro de Carvalho, mas abrigou a Junta Governativa, da qual o proprietário participava [isto é, foi sede do governo do Estado].

1894: Sedia o Quartel General do 5º Distrito, onde "imperava" o General Ewerton, o Sinistro.

1897 - 1905: Quartel da Força Policial. 

1907 - 1911: Seção Masculina do Colégio Bom Jesus.

1912 - 1913: Sede da Prefeitura de Curitiba e Câmara.

1914 - 1956: portanto, por 42 anos foi moradia da família Bianchi, que sublocava salas [Gina Bianchi mantinha ali um ateliê de pintura e um de seus alunos foi Theodoro de Bona, de acordo com o blog Fotografando Curitiba].

1956 - 1974: ocupado pela Livraria [Otto] Braun.

1974: o Palacete Wolf é adquirido pela Prefeitura de Curitiba.

5 de março de 1975: uma vez restaurado, passou a ser sede da Fundação Cultural de Curitiba, que ali permaneceu até 2006, quando a mesma foi para o Engenho Rebouças.

2006: Funcionou como Casa da Literatura [Dario Vellozo].

2017: Passou a sediar a área de Turismo da PMC.

Vista externa do " Collegio Internacional " [Bom Jesus], na Praça do Rosário [atual Praça Garibaldi]. Vêem-se algumas pessoas na sacada - os professores: Carlos Kaischmann, Emilio Hoelzte, Paulo Kraemer, Adolpho Kraemer, e Sra Kraemer (esposa de Paulo) e outras na calçada - alunos?. Legenda e foto do Acervo da Casa da Memória

Foto publicada na obra "Impressões do Brazil no Século Vinte", em 1913, citando o imóvel como sede da Câmara Municipal de Curitiba nos anos 1912 e 1913.

No final dos anos 60 e início dos 70, o Palacete Wolf se encontrava em mau estado de conservação. Ele havia se tornado uma casa de cômodos, abrigando dezenas de famílias locatárias em precárias condições de sobrevivência. Por isso, o município decidiu comprá-lo e, logo em seguida, definiu um projeto de restauro, que se concretizou e acabou por resgatar várias das características originais do edifício. Como sede da Fundação Cultural de Curitiba, abrigou a Livraria Dario Vellozo, o Teatro do Piá e uma sala de exposições.

Segundo a prefeitura, em 2006 a mudança da Fundação Cultural rumo ao Rebouças foi necessária devido às condições estruturais: 


No Palacete Wolf, somente 45 por cento dos funcionários tinham computador. Os servidores também terão melhores condições de trabalho. Muitos deles ocupavam o sótão e o subsolo do prédio da Praça Garibaldi por falta de espaço físico, ficando expostos em demasia a calor, frio, barulho e até proximidade com pombos no telhado junto ao sótão
(Assessoria de Imprensa da FCC, 2006)


Atualmente, o Palacete Wolf segue sendo um patrimônio público bem preservado, embora não tão vinculado a atividades culturais como outrora.


Quanto aos Wolf, ramificaram-se em Curitiba e outras cidades. Alguns tornaram-se prefeitos, outros, jornalistas, e um virou até nome de rua: Fredolin Wolf. Ele é filho do Fredolin (o Sênior), aquele que construiu o Palacete!


Texto e pesquisa de Gustavo Pitz


Fontes de pesquisa:


Acervo da Casa da Memória.


FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA; Assessoria de Imprensa. Fundação cultural muda para o Moinho Rebouças. Curitiba, PR , 2006, abr., 20. Disponível em: https://pergamum.curitiba.pr.gov.br/pergamumweb/vinculos/00012d/00012d09.jpg. 


Lista de imigrantes de Joinville de 1851 a 1902. Disponível em:

https://www.joinville.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/Listas-de-imigrantes-de-Joinville-de-1851-a-1891-e-de-1897-a-1902.pdf


Registro de Marilena Wolf de Mello Braga, disponível em:

http://www.aroldomura.com.br/dos-leitores-marilena-e-a-historia-dos-wolf/


Citação de Cassiana Lacerda retirada deste post:

https://www.facebook.com/groups/417557358409468/permalink/1188462064652323/


Outra importante fonte de informação foi o blog Fotografando Curitiba:

https://www.fotografandocuritiba.com.br/2016/10/palacete-wolf-o-local-da-prisao-do.html?spref=fb&fbclid=IwAR2177M5yDtTJY3sSs18QukgoQCuHi1sGbs1UGaqgQxXwegAnGeb3vztUiE


E o blog Circulando por Curitiba:

http://www.circulandoporcuritiba.com.br/search/label/Palacete%20Wolff


Jornal Dezenove de dezembro - 09/08/1882, p.4


https://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/Bem-Tombado/Antigo-Palacio-Wolff-Curitiba


https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/cinco-casaroes-centenarios-que-resistem-ao-tempo-e-guardam-a-memoria-de-curitiba/

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